Os melhores sambas-enredo de 2016

No domingo e na segunda-feira o mundo irá literalmente parar, provocando uma era glacial em metade do planeta para assistir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Um evento apoteótico, grandiloquente, permeado de nonsense e referências que não fazem o menor sentido para ninguém e que ganham explicações que reprovariam qualquer um no exame psicotécnico do Detran. Para você não perder o que vai acontecer de melhor nessas duas noites, o CH3 já pré-selecionou os cinco piores sambas-enredos desse ano.

União da Ilha
Neste ano, a escola sediada na Ilha do Governador irá desfilar as belezas do Rio de Janeiro dentro de um contexto das Olimpíadas. Acredito que toda escola já deve ter cantado sobre as belezas do Rio em 189 perspectivas diferentes e pensando em como é manjado envolver as Olimpíadas me espanta que apenas uma escola tenha tido essa ideia. Talvez elas tenham promovido uma concorrência pública para definir quem poderia desenvolver esse enredo.
Essa alegoria representa o esforço dos atletas tentando entrar para o panteão dos deuses olímpicos

Nomeado de maneira criativa como "Olímpico por natureza... todo mundo se encontra no Rio" a letra enumera uma série de clichês sobre as belezas do Rio de Janeiro. "Na terra onde o sol é mais dourado", "trilhar caminhos de rara beleza" e "do alto sou ainda mais bonito". Há ainda espaço para um sincretismo religioso "Os deuses, por Zeus abençoado". A segunda parte solta um "ser carioca é tipo assim", o que é uma contradição uma vez que essa gíria é de origem paulistana. Depois de uma série de rimas freestyle sobre o Carioca Way of Life. Para justificar a relação com as Olimpíadas, há uma referência isolada para a medalha de ouro na última estrofe e uma confissão "meu maior desejo é vencer ou vencer, Ilha, razão do meu viver".

Beija-Flor
A lendária escola de Nilópolis resolveu homenagear a Marquês de Sapucaí em plena Marquês de Sapucaí criando uma experiência metalinguística. Mestre em criar títulos que não dizem nada, a Beija Flor se saiu com um "Mineirinho Genial! Nova Lima - Cidade Natal. Marquês de Sapucaí - O Poeta Imortal", trazendo uma síntese precisa do samba no título. O interessante é que se você não soubesse disso, jamais iria perceber. Melhores momentos:
- A abertura com "Abriu-se a cortina do tempo emoldurando a história a beija-flor ôôô".
- O complexo trecho "Atravessou o mar, no afã de conquistar conhecimentos em terras lusitanas, brilhou aos olhos da lei, formou-se bacharel". Como alguém faz um samba com "bacharel"?
- A expressão "herdeiro verdadeiro de ciata". Quem é ciata? Há uma briga por sua herança?
Essa é uma reprodução real da máscara mortuária do Marquês de Sapucaí, que adorava plumas.

Grande Rio
"Fui no Itororó beber água não achei. Mas achei a bela Santos e por ela me apaixonei". Com esse título que muito lembra os poeminhas de Facebook, a escola das subcelebridades resolveu homenagear Santos. Certamente é a pior letra do carnaval desse ano. "Nesse mar de alegria, quero vê me segurar. A grande rio mandou chamar. Vem pra ciranda ioiô... No itororó vem iaiá. Beber na fonte que me faz apaixonar. Lindo cenário de amor... Histórias pra se cantar. Santos... Maravilha de lugar (vou contar). De além-mar chega o colonizador. O mercado prosperou no vai e vem (vai e vem). O cheiro doce que o vento trouxe... Encanta a família real. Nossa senhora... Mãe poderosa... Livrai essa terra do mal". Meteu um ioiô e um iaiá, falou em lindo cenário, colocou a família real ali que não tem nenhuma relação com a cidade.
Esse carro simboliza a chegada da família real, em ritmo de samba, em Santos

A letra segue com referências aleatórias ao Café e a segunda parte é toda dedicada ao Pelé. Imagina, fazer um samba enredo sobre Santos? As pessoas já nem devem saber mais que é uma cidade onde surgiu o time e não ao contrário, então o negócio é fazer referências aleatórias ao futebol como "menino bom de bola, no destino deu olé". Não tem jeito. A melhor música sobre santos ainda é essa aqui.

Unidos da Tijuca
A escola dos carnavais tecnológicos resolveu homenagear Sorriso, uma das capitais do agronegócio mato-grossense. Para isso, fizeram um enredo em que imaginaram os agricultores da cidade como um bando de matutos arando a terra e beijando o terço com o chapéu encostado no peito. São citadas enxadas, arado, semeadura manual, regadores, sendo que a verdadeira Sorriso é cheia de máquinas agrícolas e caras com roupas grossas de algodão para não serem decepados pelos modernos equipamentos.
Os pilares do trabalho no campo são representados nesse carro

Para melhorar, a única referência a Sorriso é um "Sorriso no rosto" lá no finalzinho. A letra poderia ser facilmente aplicável a qualquer outra cidade brasileira cheia de caipiras produzindo soja.

Mangueira
A mais charmosa escola carioca escolheu Maria Bethânia como tema, o que teoricamente, poderia ser uma vantagem. No entanto, a Estação Primeira resolveu fazer rimas nagô aleatórias. "Oyá... Entrego a ti a minha fé, o abebé reduz axé. Fiz um pedido pro bonfim abençoar, Oxalá, xeu êpa babá! Oh, minha santa, me proteja, me alumia, trago no peito o rosário de maria. Sinto o perfume... Mel, pitanga e dendê, no embalo do xirê, começou a cantoria". Onde está Bethânia nessa porra.
Essa alegoria representa a família de Maria Bethânia, muito importante em sua formação musical

Para se redimir, na segunda parte da letra eles começam a citar várias músicas da intérprete baiana, mas isso não salva o enredo denominado "Maria Bethânia - A menina dos olhos de Oyá".

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