O cutucão no toba como performance

Acredito que a maioria das pessoas presentes no Sesc Cariri, em Juazeiro do Norte, não fazia ideia do que iria acontecer. Conheço bem como é esse mundo das apresentações teatrais alternativas, de como as peças são descritas em livretos e flyers de divulgação. O público deve ter ficado no máximo instigado com a descrição de algo como.

O Grupo “Os Macaquinhos” propõe uma visão reflexiva sobre a exploração do hemisfério sul, utilizando o corpo como metáfora e expressão dos pensamentos. Baseados na obra de Darcy Ribeiro, eles abordam o sexo e o comportamento de maneira animalesca, levando o público a repensar os conceitos da arte e o papel do ser humano no mundo contemporâneo.

Uma descrição que diz tudo, mas que não diz absolutamente nada. Uma descrição instigante para chegar na hora e ver um grupo de pessoas andando em círculos e enfiando o dedo no cu um do outro, em um misto de orgia sexual e centopeia humana.

Ao longo dos meus anos de experiência no acompanhamento de folhetos teatrais do Sesc, já aprendi a fugir de peças em cujas descrições constem qualquer referência a exploração corporal ou releitura contemporânea. Se a sinopse não dá a ideia de nenhuma história, apenas de expressão artística e se a peça for encenada em um salão, ao invés de um palco, tenha certeza: será uma performance com muita putaria e com risco de integridade física.

Dizem que a arte contemporânea é aquela arte que está no limite entre a arte e o nada. Um lixeiro pendurado na parede, um filme sem falas e focado apenas no nariz das pessoas, sintetizadores herméticos tocando uma melodia etérea. De um lado, um pequeno grupo irá chorar com essas intervenções artísticas e fará análises apaixonadas defendendo ferrenhamente a apresentação, citando Grotowski e dezenas de autores do leste europeu.

Do outro lado estarão as pessoas normais que não entenderão o que há de arte no fato de um grupo de pessoas estar sem roupa trocando dedados e olhadas dentro do ânus alheio. Não há um público formado e preparado para isso. Mesmo no XVideos eu acredito que boa parte dos punheteiros visitantes iria achar estranho um vídeo desses. É um fetiche mais específico. O coletivo responsável pela obra afirma que a peça sofre preconceito pelos tabus. E poderia ser diferente? Como não ter preconceito e opiniões jocosas sobre um grupo de pessoas com o dedo no cu?

Muitas discussões poderiam ser abertas sobre o caso, sobre o que é arte. Porque cutucões no toba no site pornô são apenas um fetiche doentio, enquanto que se eles foram realizados em um ambiente cultural se transformam em obra de arte? Uma arte que só é arte de acordo com o ambiente em que ela é encenada pode ser caracterizada como arte? Temas para debates filosóficos.

Penso na arte enquanto elemento de choque. Mais do que propor qualquer reflexão, o objetivo de um grupo de pessoas que se propõe a introduzir o dedo dentro do ânus um do outro é chocar e imagino que tenham sido bem sucedidos. Tanto quanto estariam se distribuíssem fotos de cadáveres de crianças para a plateia.

Pergunto: não seria Andressa Urach uma artista? Outras tantas subcelebridades que chocam o público em busca de alguns minutos de fama? Nana Gouvêa não seria uma grande artista que há anos se sustenta nos causando espécie? Vivendo a vida como performance.

Mas eu sinto pena é do público que inadvertidamente se colocou diante de uma cena de horror. Não há como fugir do teatro contemporâneo, uma vez que você está lá dentro. O espaço é pequeno, por vezes os atores ficam no meio do público e se você tentar sair do local, sabe-se lá o que poderia acontecer com você. Pessoas que são capazes de mini empalações em público poderiam fazer coisas piores com um fugitivo, talvez arrancar suas roupas e enfiar o dedo no seu cu, ou coisa pior.

Fica pelo menos uma conscientização: estamos no Novembro Azul, o mês de combate ao câncer de próstata. Faça como os macaquinhos.

Comentários

silas disse…
isso realmente aconteceu? pessoas fizeram fio terra umas nas outras num teatro com o intuito de apresentar uma peça ?