Previsões, Perdas e Danos - Parte 3

Cheguei na Casa de Diversão Norturna Carnicentas por volta das 21h do dia 31 de dezembro de 2013. Sim, Diversão Norturna. Pai Jorginho de Ogum havia feito uma reforma no lugar e a pintura na parede saiu com um erro de português. Quando cheguei ao lugar, encontrei Vinícius Gressana com um copo na mão e conversando animadamente com o Cão Leproso. Cumprimentei os dois e então reparei em um cara sentado no sofá e mexendo no celular.
- Cara, aquele ali não é o L...
- Sim, é ele mesmo – respondeu Vinícius.
- Cara eu não via ele desde o... terceiro semestre. Achei que ele tinha morrido.
- Eu também achava. Mas esses dias ele virou meu colega de trabalho. Acabei convidado ele pra vir aqui. Ele veio.

Fui cumprimentar o indivíduo também. Ele disse que se lembrava de mim. Falou de um dia em que foi comigo e com o Tackleberry num mega feirão da City Lar, no intervalo de uma aula de sábado, para ver se nós encontrávamos uns salgadinhos. Disse que foi o dia mais feliz da vida dele. Perguntei por onde é que ele andava ultimamente e ele disse que andou ai pelo interior do estado, não quis dizer o que estava fazendo, só falou que a vida não estava fácil. Concordei e encerrei a conversa.

Parei em frente ao local onde os Benga Boys montavam o palco. Perguntei se os instrumentos estavam afinados e eles responderam que isso pouco importava. Tratei como um bom sinal. Passei por Pai Jorginho de Ogum e fiz uma piada sobre o Norturna pintado na parede. Ele reconheceu que não foi uma boa ideia colocar Marcão na supervisão geral de toda a reforma. Perguntei por onde o Marcão estava e Jorginho disse que ele ia chegar mais tarde, uma vez que ele e sua mulher estão brigados, porque ela alega que Marcão a transmitiu leishmaniose. Por conta disso, ela incendiou todas as cuecas do pedreiro e ele precisa resolver essa situação.
- Comprar cuecas novas? – Perguntei.
- Não exatamente – respondeu Jorginho.
Acho que compreendi o significado e segui em frente. Jorginho disse para tomar cuidado com Alfredo Chagas que está numa fase meio mística.

Logo encontrei Alfredo. Perguntei para ele como ele estava, se já desistiu da sua contrarrevolução da oligarquia proletária e ele me respondeu:
- E você acha que isso foi motivo para eu desistir? Para eu jogar tudo para o alto e não ousar mais em meus princípios? Que eu alguma vez blasfemei contra deus? O todo poderoso que unge sobre nós de maneira convicta e imponderável regendo os modernos princípios da taxidermia?
Fingi que Hanz, o pansexual estava chegando e fui embora.

Já passavam das onze da noite quando Tackleberry chegou na festa, me encontrou e me perguntou.
- Cara, aquele ali sentado no sofá é o L...
- Sim, é ele mesmo.
- Cara, achei que ele tinha morrido.
- Parece que ele é colega de trabalho do Vinícius agora. Pergunta pra ele.

Mais um pouco e vi Pai Jorginho de Ogum, Marcão e um cidadão de bata amarela conversando animadamente. Logo reconheci que era o Borboleta e parei para conversar com ele e ele falou exatamente a mesma coisa que me falaria na manhã seguinte. Quando avistei o menino Fabinho do outro lado do saguão, perguntei para Jorginho se o garoto havia sido revistado.

Finalmente encontrei o reverendo Alfredo Humoyhuessos no comando do bar. No balcão também estava sentado um cidadão vestido de Papai Noel. Por um instante pensei que era Hanz, o Pansexual, mas logo vi que era o Papai Noel que eu havia acompanhado na noite do natal. Logo que me viu, ele me xingou de filho da puta e diante da minha apreensão, pediu desculpas e disse que era assim mesmo que ele agia quando estava longe daquelas crianças catarrentas que pedem presentes. Virou duas doses de uísque de uma vez e eu me lembrei que o alcoolismo é considerado um problema sério no mundo dos papais noéis. Pedi alguma coisa para Humoyhuessos e não sei o que era, mas estava muito bom. “Anos de estudo”, ele me garantiu.

Quando a meia-noite estava se aproximando, Hanz apareceu com várias garrafas de cidra grudadas de maneira senxual no seu corpo. Por sorte, Jorginho havia escondido uma garrafa de champanhe e coube ao Cão Leproso estourar a rolha ao final da contagem regressiva. Por motivos de segurança, resolvi não tomar nada que me oferecem no meio do salão.

Minha impressão era de que os Benga Boys já haviam tocado todas as suas músicas pelo menos uma quatorze vezes, mas essa é a impressão que se tem mesmo quando se está ouvindo hardcore. No meio daquele barulho resolvi fazer logo as previsões para 2014 com Jorginho de Ogum. Pensei, que quem sabe nos primeiros minutos do dia ele não consegue um resultado melhor.

Depois que todos já tinham se cumprimentado e desejado um monte de coisas uns aos outros, voltei até o balcão de Humoyhuessos, onde o Papai Noel permanecia impassível aquele tempo todo. Tackleberry e Vinícius se juntaram a mim e como havia um bom tempo que não nos reuníamos começamos a repassar todos assuntos do ano. E então no fluxo da conversa e de drinques, veio a pergunta sobre “Se Beber não case”. Minha última lembrança é a de Vinícius segurando duas garrafas de Dolly, uma em cada mão. Depois, só me lembro de acordar no meu carro às 11h12 do dia primeiro de janeiro.
Continua

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