Debates Filosóficos: O voto de silêncio e a internet

Com o intuito de contribuir para o crescimento intelectual da raça humana, este blog, o CH3, tomou a iniciativa de promover uma série de debates sobre questões existenciais ligadas a vida contemporânea. Para isso, no último final de semana, reunimos uma série de pensadores, celebridades e afins, na sede do nosso blog em Cuiabá, para a discussão do primeiro tema: o voto de silêncio e a internet.

Nosso pai-de-santo Pai Jorginho de Ogum fez as vezes de Mestre de Cerimônias e introduziu o tema a todos os presentes. Na mesa de honra, figuras como Dalai Lama, Pierre Lévy, Danilo Gentilli, Andressa Soares (Mulher Melancia), o monge Zhen Wijiang e Lobão estavam prontos para debater. Na platéia, teatrólogos, advogados e enfermeiros se faziam presentes – a lista de interessados em fazer apartes passou de 200. Chefes de Estado estavam presentes por videoconferência, ou mandaram seus representantes. Pai Jorginho de Ogum prometia incorporar qualquer entidade interessada em se manifestar.

Dalai Lama se irritou com o tema
A grande questão levantada era: em tempos de modernidade, em que os cidadãos têm amplo acesso a internet e as mais diversas redes sociais, se um monge adepto do voto de silêncio resolve postar um comentário sobre algum fato cotidiano, ele estaria quebrando seu voto? Uma fala no Twitter pode ser considerada uma manifestação expressa? O voto de silêncio faz referência apenas as ondas mecânicas produzidas pelas cordas vocais, ou se referem a toda e qualquer manifestação intelectual?

O sempre polêmico Lobão começou o debate falando que ele não acreditava em votos de silêncio. Ele questionou como é que alguém poderia provar que um monge nunca havia falado em sua vida. “Quem garante que, num momento de intimidade, durante o banho por exemplo, o monge não fale? Que ele não cante no chuveiro”. Burburinho na platéia.

Dalai Lama respondeu que de fato, ninguém poderia provar que o cidadão passou a sua vida inteira em silêncio. Mas falou que é preciso confiar no que a pessoa diz. Neste momento Danilo Gentili disse que é impossível confiar nas pessoas e fez uma piada. Algumas pessoas riram, outras não.

Um cidadão levantou exaltado na platéia, tratava-se do comentarista de futebol Neto. Ele questionou que realmente não é possível saber se alguém fala ou não durante o banho, exceção feita aos casos em que o banheiro esteja sendo filmado. Jorginho precisou intervir para que uma discussão sobre a invasão de privacidade não começasse e devolveu a palavra a Neto. Ele retomou seu pensamento, afirmando que jamais seria possível saber se alguém introduz o sabonete na bunda durante o banho, mas que nem por isso, devemos duvidar de alguém que diga que jamais tenha feito aquilo.

Alguns aplausos tímidos surgiram. O assunto levantado por Neto levou a palavra até a Mulher Melancia, que considerou aquela uma grande oportunidade de mostrar o seu trabalho. Questionada sobre o que é feito no banho, a dançarina levantou e começou a dançar sensualmente.

Oscar acha que os monges devem
arriscar chutes de 3 pontos
Pai Jorginho precisou intervir para que a conversa não se perdesse. Aproveitando a deixa da Mulher Melancia, ele questionou se, por algum acaso um monge adepto do silêncio estivesse assistindo a performance da fruta, se ele teria o direito de se manifestar em sua timeline no Facebook.

Lobão voltou a desdenhar da situação, afirmando que um monge de verdade jamais poderia ver uma cena dessa. Dalai Lama retrucou, falando que todos podem ver o que quiserem, uma vez que a vida reserva surpresas e nem sempre podemos escolher o nosso destino. Questionado sobre o assunto, Zhen Wijiang se reservou ao direito de permanecer calado. Um deputado federal se irritou com a situação e só foi contido, quando avisado que aquela não era uma sessão de CPI. Constrangido, se retirou do local.

Pierre Lévy, que até então permanecia calado ergueu a mão. Manifestou seu descontentamento com a demora para que seu copo de água fosse reposto. A organização pediu desculpas e, desculpas aceitas, o filósofo discorreu sobre o tema do debate. Em um tom irônico, ele perguntou “O que é o virtual” e vendeu cinco livros. “Creio que em uma sociedade moderna, pós-contemporânea e pós-apocalíptica, o seu eu é fragmentado e multifacetado. No entanto, não dá para haver uma separação entre o ‘eu’ que está falando aqui e o ‘eu’ que faz comentários sobre Breaking Bad no Twitter. Você é cada um deles, mas é ambos. O que está no seu facebook não pode ser dissociado do que você realmente é”.

Bastante ponderado, Pai Jorginho de Ogum provocou os debatedores questionando se, afinal, a voz é apenas uma reprodução de ondas mecânicas ou se é a reprodução do seu pensamento. Ter uma voz, significa ter opinião ou significa não ser um mudo?

Lévy prefere a gema mole
Galvão Bueno pediu a palavra e lembrou o quanto ele foi abençoado em ter uma voz prodigiosa. Dando um show de virtuose, Galvão lembrou as grandes passagens da sua carreira e terminou sua fala demonstrando ter plena confiança de que Rubinho Barrichello reagirá e conquistará o título da Fórmula 1 neste ano. Olhando para Cão Leproso, o narrador enfatizou que faz questão de que sua fala seja inserida entre as notas taquigráficas do encontro. O monge Zhen seguiu sem se pronunciar sobre qualquer assunto.

As discussões prosseguiram durante mais algumas horas, até que Pai Jorginho de Ogum resolveu terminar o debate, no momento em que Lobão e Pierre Lévy passaram a discutir sobre a melhor maneira de fritar um ovo. Observador autônomo do debate, o escritor e flautista mágico colombiano Alfredo Humoyhuessos encerrou o encontro. Em suas palavras, “Este debate representa um grande avanço para a humanidade. A partir de agora, passamos a entender melhor este assunto complexo e vital para o desenvolvimento de nossa sociedade. As próximas gerações continuarão discutindo esse assunto. O debate também mostra que sim, que nós temos a capacidade de chegar a grandes conclusões. Convido a todos aqui, para o próximo encontro que tentará entender como é que funciona o processo de pagamento por serviços ambientais”.

 Ao final, todos se dirigiram até a Casa de Diversão Noturna Carnicentas para se confraternizar.

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