O Agente Incitador do Caos

Do meio da multidão emerge o grito: Vai Cair! Logo as pessoas começam a correr de um lado para outro, assustadas, pensando no que é que iria cair. Correria, pessoas tropeçando e nada mais cai. O que é que poderia cair? Ninguém percebeu. Ninguém exceto o Agente Incitador do Caos.

Ele pode ser alguém normal, como eu e como você. E não precisa estar necessariamente mal intencionado. Estes também existem, mas não nos interessam. Esses são meros baderneiros, agitadores sociais, ex-participantes da câmera escondida tendo recaídas.

Falamos dos incitadores que agem por espontaneidade. Por achar simplesmente que o caos realmente vai acontecer. Todos temos dentro de nós um instinto, talvez de sobrevivência, que nos avisa quando algo vai dar merda. Os que não têm, acabam voando com balões e indo parar no Darwin Awards. Já aqueles que têm esse instinto aflorado, acabam por incitar o caos. Este agente é um iluminado. Quando algo está para acontecer, uma luz vem até ele diz “filho, vai dar merda”.

No último dia 13 de maio, pessoas que freqüentavam o Shopping Goiabeiras, em Cuiabá tomaram um susto. Uma explosão na praça de alimentação. Não era nada demais. Era apenas um cano de refrigeração de uma máquina de refrigerante. Tal fato já havia ocorrido antes, aqui mesmo em nossa grandiosa capital, mas em outro estabelecimento.

[Momento Flashback]
O ano era 2007. Numa maternidade de Cuiabá uma criança nasce. Ao se deparar com o recém-nascido, a enfermeira fez um comentário pouco usual “mas que criança feia”. Revoltada com a agressão verbal sofrida logo nos seus primeiros segundos de vida a criança retrucou:
- Feio? Feio é o que vai acontecer no Shopping Três Américas no dia 12 de outubro.

Disse essas palavras e morreu, sem deixar provas. A enfermeira ficou louca e o médico, surdo, cego e mudo. Não na data citada, mas poucos dias depois uma explosão ocorreu no referido shopping. Era um cano de refrigeração que havia se soltado.

[Fim do Momento Flashback]

Pois esta explosão poderia ter sido apenas um grande susto. Do qual todos nos iríamos rir no futuro. Mas não foi. Porque naquela praça de alimentação existiam Agentes Incitadores do Caos.

“Vai explodir!”. Foram essas a palavra que o agente gritou. O suficiente para que pessoas começassem a correr desesperadas. Para que sapatos se perdessem, bolsas e carteiras fossem abandonadas pelo meio do caminho. Cidadãos tentavam descer a escada rolante que subia. Não existiam leis. Não existiam regras. Não havia um pingo de piedade. Se uma pessoa tivesse o terrível azar de cair no chão, seria pisoteada inapelavelmente.

E os gritos de “vai explodir” continuavam. Pessoas que não estavam no epicentro do acontecimento, se assustavam ao se deparar com o agente que passava gritando pelos corredores gritando “vai explodir”. E o que faziam essas pessoas? Corriam de suas lojas. Um ambiente ideal para rebeliões, saques, estupros e ocultação de cadáveres em carrinhos de lixo. Se em Cuiabá houvesse uma praça Tahrir, é para lá que o povo iria.

No final, ninguém morreu. O refrigerante ficou sem gás e pessoas tiveram que consultar o “Achados e Perdidos”, inclusive para verificar se a dignidade outrora perdida estava ali.

Os Agentes Incitadores do Caos continuam espalhados por aí. Em certos momentos, suas visões podem se tornar verdadeiras e salvar vidas. É quando eles se transformam em pessoas que salvam vidas. Como aquele cara que, ao perceber a Tsunami grita “Olha a Onda!”. Desde é claro, que este cara não esteja na Bahia. Lá, seria uma letra de Axé.

Comentários

Thiago disse…
E aqueles que depois da trajedia dizem eu avisei?